Lazer e Cultura
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No coração da capital paulista, em 1978, a história da Woodstock Rock Store começou a ser escrita. Imagine uma pequena loja na Rua José Bonifácio, onde o vinil reinava absoluto e os sonhos de uma geração de amantes do rock ganhavam vida. Seu protagonista, Walcir Chalas (68), um verdadeiro apaixonado pelo som estridente das guitarras e pelas letras marcantes, tinha uma visão que mudaria o curso da música pesada na cidade.
Há 45 anos, a Woodstock é mais do que apenas uma loja de discos: é um ponto de encontro para quem, há quase meio século, compartilha o amor pelo som do metal. Beatles, Rolling Stones, Elvis, Sex Pistols - todos tem um lugar especial nas prateleiras da Woodstock.
Mas foi em uma viagem para a Inglaterra, em 1982, que o destino da loja tomou um rumo inesperado. Em Londres, Walcir se deparou com a explosão da “New Wave of British Heavy Metal”. Ele conta que pessoas vestindo camisetas do Iron Maiden, Saxon e Angel Witch eram vistas em todos os cantos e que, ali, enxergou a oportunidade de transformar a Woodstock em uma experiência que a tornaria um farol para os fãs do metal no Brasil.
“Cheguei em Londres no lançamento do álbum ‘The Number of the Beast’, do Iron Maden, ou seja, no olho do furacão. Eu sempre quis estar em um movimento de rock na Inglaterra, e fui pra lá justamente para viver essa experiência. Mas foi inevitável ver todos aqueles discos e não trazer para a loja. Lembro que comprei muitos álbuns pela capa, e acabou que eles eram muito bons. Os clientes amaram!”, explica.
Walcir começou a viajar para a Inglaterra com frequência, trazendo malas cheias de tesouros do rock diretamente para a Woodstock. Era uma busca constante por novidades, e os LPs importados eram como um oásis para os ouvidos dos brasileiros.
Em 1985, a loja, até então localizada na Rua José Bonifácio, já não dava conta de abrigar o mar de gente que se dirigia para lá nas manhãs de sábado, e Walcir decidiu transferi-la para o número 155 da Rua Dr. Falcão Filho, no Anhangabaú.
Neste ano, acontecia o primeiro Rock in Rio, e bandas como Iron Maiden, Scorpions e Ozzy Osbourne incendiaram os palcos do Brasil. “Até o momento, a Woodstock já havia vendido cerca de 5 mil cópias do Iron Maden. O metal já era considerado uma paixão nacional, e os jovens adotaram o estilo com entusiasmo”, conta Walcir.
Walcir Chalas se tornou um ícone, apresentando programas de rádio e televisão dedicados ao metal. Estrelas do rock passaram pela loja, como o James Hetfield, vocalista do Metallica, a banda Ramones, entre outros. Uma das relíquias da Woodstock, que Walcir guarda com carinho, é a mesa na qual Joey Ramone fez uma sessão de autógrafos – e deixou grudado um chiclete.
“Me sinto realizado por fazer parte desta história”, destaca Walcir, que também relembra com carinho a participação da loja para a formação da banda Sepultura. “Se o Max [vocalista da banda] não tivesse vindo aqui, não existiria Sepultura”, diz. A banda foi formada na década de 80 e chegou a reunir uma multidão para uma sessão de autógrafos no espaço.
Não é à toa que a Woodstock é considerada para além de uma loja de discos: é uma lenda viva que ajudou a construir o cenário do heavy metal em São Paulo. É um templo de resistência e dedicação, um lugar onde sonhos e memórias se fundiram em notas de guitarra e batidas poderosas.
Toda essa história é contada pelo próprio Walcir Chalas e por músicos e fãs no documentário Woodstock - Mais que uma Loja, produzido e dirigido por Wladimyr Cruz. O filme conta com depoimentos de nomes como Max Cavalera, Iggor Cavalera, João Gordo, Andreas Kisser, Gastão Moreira e muitos outros que viveram a época e foram importantes para a popularização do metal aqui no Brasil.
E você, guarda alguma memória especial na Woodstock Rock Store? Junte-se a nós para explorar essa e outras narrativas de “Histórias que #TodosPeloCentro contam”.
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