Lazer e Cultura
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“Eu penso a escultura como o instante pausado de um filme", explica Flávio Cerqueira ao comentar sua carreira, que chega à marca de 15 anos com uma retrospectiva individual inédita no Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo. A declaração do artista joga luz sobre o forte teor de narrativa que imprime em suas obras, com esculturas figurativas em bronze que convidam o público a completar as histórias contidas em cada detalhe de personagens tipicamente brasileiros.
A partir de 07 de dezembro, a riqueza das narrativas propostas pelo artista estará em exibição em Flávio Cerqueira - um escultor de significados, com entrada gratuita. Os ingressos poderão ser retirados na bilheteria ou reservados pelo site bb.com.br/cultura.
É a primeira exposição individual que percorre todos os 15 anos de carreira do paulistano. O artista tem obras em importantes museus ao redor do Brasil e no exterior e chega ao CCBB São Paulo com curadoria de Lilia Schwarcz, historiadora, antropóloga e imortal da Academia Brasileira de Letras.
“Muito vinculada a uma certa história ocidental, a escultura em bronze celebrava o privilégio de homens brancos. Insurgindo-se contra essa narrativa, Flávio Cerqueira seleciona pessoas que observa no dia a dia, imersas em seu próprio cotidiano, e as eleva no bronze. São personagens representados de maneira altiva, com respeito, quase de maneira filosófica", comenta a curadora.
Reconhecidas pela originalidade e riqueza de detalhes, as esculturas de Cerqueira vão ocupar todos os andares e o subsolo do prédio histórico do CCBB no centro da capital paulista - no térreo, os visitantes vão encontrar “O jardim das utopias", uma seleção de trabalhos pensados para áreas abertas, que exploram a temática das fontes ornamentais e esculturas instaladas em praças públicas. “A busca por uma mudança do eu e o desejo de criar um lugar imaginário norteiam essa ilha de possibilidades, muitas vezes utópicas, mas que trazem leveza ao cotidiano caótico da existência", afirma o artista sobre as obras que vão dar as boas-vindas aos visitantes.
Narrativas múltiplas
No quarto andar do CCBB, o núcleo “Labirinto da memória” aborda o aspecto autobiográfico da obra de Flávio Cerqueira, com obras marcantes de sua trajetória, que parecem materializar o momento congelado de uma história, representando “o desejo de pausar um momento e gozar dele, nem que seja por mais uma única vez", como explica o artista. Compõem esse núcleo trabalhos como “Iceberg" (2012), “Ninguém nunca esquece” (2014) e “Pretexto para te encontrar”(2013), entre outros.
Já no terceiro andar, na área “Um caminho sem volta", o projeto expográfico convida a um momento mais dramático e intimista, com iluminação rebaixada e uso de luz e sombra para valorizar a interação das obras com o espaço. Objeto recorrente na produção de Cerqueira, o livro é destaque neste núcleo, formado por trabalhos que dialogam com o caráter inalcançável do conhecimento formal, principalmente o acadêmico, que se apresenta para a classe trabalhadora como uma aspiração distante.
“Em suas primeiras aparições, livro e escultura eram feitos de materiais distintos por eu acreditar que essa erudição não me pertencia e não me era possível alcançar. No decorrer de minha jornada, descobri diversas formas de erudição e cultura, e que muitas delas não estão somente em livros", comenta o artista.
Os demais núcleos - “Histórias: as minhas, as nossas” e “O processo é lento” - reúnem, um grande número de esculturas, algumas de grande porte, além de instalação com maquetes, estudos, formas de látex, gesso e materiais de trabalho que ilustram o processo de criação artística. O segundo pavimento do prédio agrupa várias obras, enquanto o subsolo exibe os bastidores da criação das peças. No cofre do CCBB haverá a projeção de um documentário em vídeo sobre o trabalho de Flávio Cerqueira. “Uma das coisas que mais me fascinam em ser artista é o fazer e todos os processos que isso envolve, por mais demorado que possa parecer", ele explica.
As obras materializam a sensação de marginalidade, de estar e se sentir à margem, a partir de figuras tipicamente brasileiras, sempre em um instante capturado e imobilizado pelo artista. Questões de classe, identidade, raça e gênero são problematizadas em narrativas que desfocam as fronteiras entre as esculturas, o espaço arquitetônico e o visitante, que se torna co-autor na produção de múltiplos significados.
“Meu fazer artístico é o processo de transformação pelo qual passa cada material até se tornar uma escultura: a cera de abelha misturada com óleos e um pó de barro peneirado que transformo em platina e que, modelada por minhas mãos, se torna uma figura. As misturas das ligas metálicas como cobre, estanho, chumbo, zinco, ferro e fósforo derretidos a mais de mil graus centígrados que, despejadas em um bloco de areia com dióxido de carbono, eternizam essas formas modeladas em um dos mais nobres materiais da escultura, o bronze", finaliza Flávio Cerqueira.
Ao realizar este projeto, o Centro Cultural Banco do Brasil valoriza a produção artística contemporânea nacional, promove reflexões sobre a arte como ferramenta de transformação social e reafirma seu compromisso de ampliar a conexão dos brasileiros com a cultura.
SERVIÇO
Exposição “Flávio Cerqueira - um escultor de significados”
Data: de 07 de dezembro de 2024 a 17 de fevereiro de 2025
Local: Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo
Endereço: Rua Álvares Penteado, 112 - Centro Histórico | São Paulo/SP
Ingressos gratuitos: disponíveis em bb.com.br/cultura e na bilheteria do CCBB SP