
O espetáculo inédito Carta à Rainha Louca é uma adaptação do romance homônimo de Maria Valéria Rezende, concebido e escrito a partir de uma carta verdadeira encontrada pela autora décadas atrás nos arquivos ultramarinos em Lisboa. A partir dessa carta endereçada à corte portuguesa no período do Brasil colônia, em que constava a defesa de uma mulher acusada de insubmissão à Igreja, Maria Valéria preenche as lacunas do tempo e cria em seu romance a história ficcional de Isabel das Santas Virgens.
Assim como a remetente factual, a personagem do livro é presa e acusada injustamente por tentar estabelecer na região de Minas Gerais um convento feminino clandestino, quando na verdade tratava-se de uma comunidade criada para acolher mulheres pobres, sem família, sem renda, sem destino: as chamadas “sobrantes”. Isolada num convento em Olinda, Isabel escreve uma carta à Rainha Maria I de Portugal, conhecida como Rainha Louca, relatando sua trajetória e denunciando as violências cometidas pelos homens da colônia. Ela acredita que a única forma de alcançar a libertação é através da força das palavras, contando sua história a outra mulher que irá, portanto, compreender sua condição. Uma mulher de cetro e coroa, que detém os poderes para ordenar sua soltura e livrá-la do encarceramento.
O espetáculo Carta à Rainha Louca transpõe da literatura para o teatro a história de Isabel e de outras personagens do romance: mulheres escravizadas, outras enclausuradas em conventos, meninas de famílias ricas usadas como moeda de troca em casamentos arranjados. Em tempos como os que vivemos hoje, cresce uma inquietação de ler as entrelinhas apagadas de nossa história; trajetórias de mulheres que foram e são rasuradas todos os dias em nosso país, para que a partir deste resgate, possamos nos fortalecer e vislumbrar caminho menos desiguais e menos violentos.


